Adversidades na Amazônia surpreendem a Construtora Sepco [Grupo Chinês]
Contratada para construir linhão de Belo Monte, Sepco terá de fazer novos investimentos para entregar obra
BRASÍLIA - Um dragão chinês atolou em plena floresta amazônica. O trabalho em locais adversos e condições precárias nunca assustou a engenharia civil chinesa, mas a empreiteira Sepco dá sinais de que não fazia ideia do que enfrentaria ao assumir a responsabilidade de construir 780 quilômetros do maior projeto de transmissão de energia do País, o linhão de Belo Monte.
Desde o fim de 2016, a empreiteira está com as operações praticamente paralisadas em parte do trecho das obras no Pará, em razão das chuvas torrenciais que todos os anos atingem a região Norte do País.
Contratada pela também chinesa State Grid, a Sepco tem de entregar um traçado equivalente a 38% da malha que vai ligar a hidrelétrica construída no Rio Xingu até o interior de Minas Gerais, na fronteira com São Paulo, uma rede de 2,1 mil km.
A Sepco admite que, quando assinou o contrato, em dezembro 2014, não esperava lidar com a realidade que encontrou. Em razão das dificuldades de construção no solo encharcado da floresta, o volume de torres do primeiro lote da linha, de 260 km, teve alta de 64% em relação ao que se previa, obrigando a empresa a levar 7.298 toneladas a mais de aço para o meio da mata.
“Consequentemente, o volume de concreto também aumentou. A supressão vegetal (desmatamento) exuberante da floresta amazônica da região praticamente duplicou em termos de escopo de trabalho, com relação ao orçamento original”, declarou a Sepco, em nota.
A logística é outra complicação, por causa das dificuldades de acesso ao local previsto para as torres e cabos de alta tensão. “Não existem rodovias, apenas trilhas para pequenos veículos”, afirmou a empresa. “No período das chuvas, de dezembro a abril, torna-se praticamente impossível manter ritmo mínimo e aceitável na produção. Após o período chuvoso, torna-se necessário recuperar todos os acessos e muitas pontes que foram danificadas”, afirmou o engenheiro e diretor técnico da Sepco no Brasil, Norberto Letti.
Hostilidade. A empresa também enfrenta dificuldades com as comunidades locais atingidas pelo empreendimento. “Se não bastassem tantas adversidades, estamos sofrendo constante hostilidade dos habitantes, os quais sequestram equipamentos, bloqueiam estradas, proíbem a entrada e saída de funcionários e desestruturam a logística operacional de construção.”
Sobram acusações também contra prefeituras e governo estadual. “A Sepco foi obrigada a construir estradas de acesso que seriam, normalmente, obrigação do governo, pois são estradas públicas que permitem o acesso às populações locais.”
Alvo de multas e de reclamações pela concessionária Belo Monte Transmissora de Energia (BMTE), dona do linhão, a Sepco prometeu acelerar contratações de pessoal e fazer novos investimentos para não comprometer a entrega da linha, que precisa entrar em operação em fevereiro de 2018.
-=-=-=-=-=-=- ESTRATÉGIA MAIOR -=-=-=-=-=-=-
No longo prazo, os chineses visam entrar em novos projetos no Brasil, e não somente em aquisições, um caminho que já tem sido trilhado pela State Grid, que constrói atualmente diversas linhas de transmissão no país.
Esse movimento, inclusive, é visto por especialistas como uma estratégia de Pequim para viabilizar a entrada de outras empresas chinesas no Brasil --principalmente de engenharia, construtoras e fornecedoras de equipamentos.
"Sem dúvida existe essa expectativa de que ao entrar em um novo mercado que você passa a conhecer melhor, consegue trazer uma gama maior de produtos e serviços, e em algumas dessas tecnologias a China é referência", afirmou Larissa, da Vallya.
Algumas dessas empresas já chegaram, inclusive, alojando-se no prédio da State Grid no Rio de Janeiro, no qual a elétrica investiu mais de 200 milhões de reais.
O endereço, que virou praticamente um quartel-general dos interesses elétricos chineses no Brasil, já abriga escritórios do China Development Bank, da construtora SEPCO, que pertence ao grupo PowerChina, além do grupo NARI, que produz equipamentos elétricos.
A State Grid disse que a maior parte de seus fornecedores é locais e que seu prédio "está aberto a qualquer empresa que tenha interesse em alugar espaços comerciais".
-=-=-=-=-=-=- NOVO MOMENTO -=-=-=-=-=-=-
O avanço das chinesas vem em um momento em que o setor elétrico brasileiro sofre com a recessão do país e o alto endividamento das empresas, que têm anunciado diversos planos de vendas de ativos para gerar caixa.
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